quinta-feira, 9 de junho de 2005

lentidão...

Passo os dias a correr e alguem me diz: "calma, Paulo!" - Fiquei a pensar nisto... o meu corpo anda a duzentos à hora... não páro para sentir o mundo... será triste? serei feliz? Eu acho que é a vida... mas é bom que ela nos ensine a sentir... a velocidade só faz viver... e a aceleração só faz chegar... e a força motriz da nossa vida passa a ser totalmente desprovida de sentimentos. Somos verdadeiras máquinas de viver! É um comentário muito dark mas acho que ás vezes toda a gente se questiona...

Pois em jeito de alteração, vivi uma experiência diferente: o saborear, o ver... Lá estava eu à entrada de um qualquer restaurante chinês quando vi as horas... e pensei... tenho que demorar séculos. Provar cada folhinha de um legume qualquer como se fosse o ultimo... ouvir o barulho da trepidação do meu maxilar... parar... tentar distinguir cada sabor, cada textura! É tudo tão diferente. É tudo tão estranho... o tempo passa... pego nos pauzinhos, sinto a tracção da madeira. Jogadas de fisica do movimento para que o arroz não caia, mas sempre como fosse tudo sujeito a uma aprovação gestual para os deuses. Esquisito? Muito! Cada elemento daquele prato difuso foi deglutido, digerido, triturado como o ultimo... as sensações criadas no palato... aspero... QUENTE... doce... salgado. O trago na minha bebida é feito para que todos os musculos permitam um golo rápido... quase me engasgo por causa do gás! Lembro-me sempre de uma musica..."where is my mind" dos Pixies... Seco os lábios no guardanapo, como se fosse um doce e terno beijo, a textura do guardanapo faz-me cocegas. Termino a minha refeição... demorei eternidades...Não faz mal! Sinto que aproveitei cada segundo da minha vida... entretanto e por razões de tradição apareçe na mesa um pano quente... disciplinadamente enrolado... pois ai gozo a minha ultima caminhada nesta maratona de sensações! Cuido das minhas mãos como se fosse uma disciplinada comcubina... com rigor e delicadeza percorro cada saliencia, cada lenho da minha mão... neste momento dedico-lhes uma vida inteira... cada dedo, cada tarso, cada metatarso como uma dolorosa despedida... Pago. Saí, arrastando-me pelo ar pesado do ar condicionado... arrepia-me. E naquelas duas horas vivi uma vida inteira, volta-se à máquina infernal da corrida universal... mas já não interessa, Tou vivo e vivi!

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